Uso de contraste em alérgicos ao camarão: há riscos?

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É comum ao se encaminhar para uma clínica para realizar algum procedimento ou exame radiológico, onde possa haver a necessidade de administração de contraste, se deparar com um questionário para relatar se há histórico de alergias após o consumo de camarão.

Ao analisarmos esse cenário nos deparamos com algumas questões, onde a primeira é que não há casos relatados de verdadeira alergia ao iodo na medicina. Inclusive, sequer há um teste específico para determinar tal alergia, porém esse mito acabou sendo perpetuado devido a coincidência da presença de iodo tanto nos frutos do mar quanto no contraste iodado.

Vale induzirmos também o pensamento lógico que um paciente brasileiro supostamente com alergia ao iodo deveria abdicar do uso de sal de cozinha e diversos alimentos industrializados. O sal comercializado no Brasil é enriquecido com iodo desde 1953, sendo obrigatória a iodação de todo sal comercializado em território nacional destinado ao consumo humano e animal (Lei 6.150/74) como forma de política pública de prevenção ao hipertireoidismo.

Já quando falamos da alergia ao camarão, ela pode ocorrer devido a duas questões:

  • alergia proteica a tropomiosina, encontrada em grande concentração na casca do camarão e em menor concentração mas suficientemente alérgica em sua carne. A tropomiosina é uma substância presente em todas as células eucarióticas, ou seja, presente na constituição de crustáceos, moluscos, insetos e ácaros, por exemplo (BARBOSA, COSME e SANTOS, 2016);
  • reação ao conservante do alimento, especificamente ao composto inorgânico metabissulfito de sódio, usado comumente pela indústria alimentícia para evitar o escurecimento da carapaça do camarão.

Já quando falamos de contraste iodado, as pesquisas mais recentes apontam que suas reações adversas são classificadas em dois tipos:

  • Reação de hipersensibilidade alérgica e não-alérgica;
  • Reação de intoxicação.

O primeiro estaria relacionado ao alto grau de osmolaridade da substância, tendo contraindicação aos pacientes com histórico de reação anterior ao contraste, com insuficiência renal, que sofrem de mastocitose ou doenças crônicas (COUTO, 2020). Já as reações de intoxicação se relacionariam ao seu alto grau de osmolalidade, definido pela razão iodo/plasma), alta viscosidade e baixa hidrofilia (LAUZI et al., 2020).

Referências Bibliográficas:

LAUZI, M. “Meios de contraste: conceitos e diretrizes“, 1ª edição, São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2020. p. 19-33. Disponível em: http://dx.doi.org/10.46664/meios-de-contraste-1. Acesso em 21 jan. 2021.

COSME, J, SANTOS, A e BARBOSA, M. “A tropomiosina como um panalergénio: Revisão“. Revista Portuguesa de Imunoalergologia. 24. 143-153, 2016.

COUTO, M. “Alergia aos meios de contraste iodados“, Mariana Couto, 2020. Disponível em: https://marianacouto.pt/artigos/alergia-aos-meios-de-contraste-iodados. Acesso em: 21 jan. 2021.

Autor

  • Bacharel em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com pós-graduação a nível de especialização acadêmica em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) com formação prática na Marinha do Brasil e Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Atua há 10 anos laudando e realizando exames de ultrassonografia, com foco na área musculoesquelética. CRM 52-929166.

Author: Rodrigo Vieira

Bacharel em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com pós-graduação a nível de especialização acadêmica em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) com formação prática na Marinha do Brasil e Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Atua há 10 anos laudando e realizando exames de ultrassonografia, com foco na área musculoesquelética. CRM 52-929166.